Quem me conhece sabe que eu amo futebol e adoro assistir todos os jogos, independente de quem esteja jogando. Nem preciso falar que os jogos do Santos são compromissos de agenda. Não havia nada que pudesse me tirar de frente da tv para acompanhar o meu time de coração. Mas anos atrás os tempos eram difíceis, não conquistávamos títulos grandes há 18 anos e a empolgação não era tanta. O meio da tabela parecia que era sempre nosso lugar marcado e isso desanimava bastante.
Em 2002, a expectativa da mídia (e também de alguns torcedores) era de que cairíamos para a segunda divisão. Isso se dava pelo simples fato de passarmos por uma fase difícil e sem jogadores. Sem grana para contratar gente pro elenco, a opção foi usar o que tinha nas categorias de base.
Nesse ano, nós conseguimos manter a média dos anos anteriores e continuamos no meio da tabela. Só que desta vez contamos com a sorte na última rodada. O Gama, que já estava rebaixado, goleou o Coritiba por 4 a 0, tirando a chance dos paranaenses de se classificarem para as quartas e dando a última vaga para o Santos.
Para a próxima fase, como o último colocado, enfrentaríamos o líder São Paulo. Time que vinha embalado, com quase 70% de aproveitamento e cheio de favoritismo para ser o campeão. Mas isso não assustou um time que veio cheio de moleques empolgados. Dentre eles: Robinho, Diego, Elano, Alex, Renatinho. E foi com esse espírito que marcou uma geração, que acabou vencendo de 3×1 e 2×1 nas quartas de finais. Logo depois veio o Grêmio, que foi batido por 3 a 0 no primeiro jogo e venceu por 1 a 0, e na final contra o Corinthians que venceu por 2 a 0 e 3 a 2. Este último jogo foi a clássica partida das pedaladas do Robinho.
Bem, pra quem viu o Santos daquele ano, entendeu que havia algo diferente naquele futebol apresentado. Um time de meninos cheio de talentos, que provaram que poderiam ser maduros em campo, mesmo tendo pouca idade. Mas diante de duas estrelas, que eram Robinho e Diego, alguém se destacou mais aos meus olhos. Ele tinha um jeito diferente de bater na bola. Um olhar preciso para lançamentos e uma dedicação imensa para ajudar na recuperação da bola. Um jogador diferenciado por poder jogar em todas as posições, ganhando até o apelido de Curinga da Vila. Esse jogador era o Elano.
Me empolguei tanto com esse jogador, que cheguei a adotar como apelido no mIRC, MSN e outros o tal do Elano (se você lembrar disso, me conhece há MUITO TEMPO). Passei a acompanhar mais sua carreira e sempre me dediquei a buscar novas informações sobre ele. Passava a ver matérias especiais, mesas redonda, entrevistas e cada vez mais passava a admirar mais sobre sua pessoa, ainda mais fora de campo.
Assim como a maioria dos jogadores, ele também sofreu para se tornar um jogador de futebol profissional. Passou por Guarani, Inter de Limeira para enfim chegar no Santos para treinar com a categoria de base e logo assinar seu primeiro contrato profissional.
Além de admirar sua forma de jogar, passei a reparar em sua personalidade e encontrar uma grande identificação com seu modo de agir e pensar. Uma pessoa séria e dedicada em seu trabalho, mas também extrovertido e positivo para a união e ambiente do grupo. Responsável com seus compromissos e um homem de muita fé.
Eu passei por muito tempo tentando encontrar com o Elano para poder contar sobre minha admiração. Algo normal, com o qual eu pudesse visitar os jogadores no hotel, tirar uma foto, pegar um autógrafo e trocar poucas palavras. Para mim já bastava. O problema que não era tão simples assim. Por muitas vezes Elano não vinha para Curitiba para jogar, por diversas razões, como: time reserva era escalado para o jogo, ele estava afastado por contusão, estava na seleção brasileira, etc.
E logo no início de 2005, Elano foi vendido para a Ucrânia para defender o Shakhtar Donetsk, por cerca de 26 milhões de reais (valores não confirmados). Elano havia deixado um legado de dois títulos brasileiros (2002 e 2004), um vice Brasileiro (2003) e um vice da Libertadores (2003). E com ele também minha esperança de conseguir pelo menos uma foto.
Dois anos na Ucrânia, Elano foi para o Manchester City por mais dois anos até parar na Turquia para defender o Galatasaray, também por dois anos.
Em 2011, enfim o Santos selou sua contratação novamente, por mais de 6 milhões de reais, que valiam menos que minhas esperanças de encontrá-lo.
Esperanças que não se concretizaram a nada. Os dois anos de contrato não serviram para conseguir o tão sonhado feito. A má administração juntao com o descontentamento do jogador resultou na ida do Curinga da Vila para o Grêmio, o qual era treinado por Luxemburgo, treinador do Santos na campanha vitoriosa de 2004.
Além do Grêmio, Elano ainda chegou a ser emprestado para o Flamengo e logo depois negociado para jogar na Índia. Pois é. Não preciso falar mais nada. Até porque eu não iria visitar hotéis com a camisa do Santos atrás do jogador em outros clubes. Isso não me soa normal ou certo, seja pra mim ou para ele.
Foi então que finalmente ele voltou em 2015. Reascendeu novamente as esperanças. Mas pasmem, é de ficar muito chateado o que aconteceu. Na época que ia ter jogos do Santos novamente em Curitiba, ele voltou a ser emprestado para o time da Índia, onde ele tinha se comprometido a voltar. Pois é, nem eu acreditava.
Tudo bem, começo de 2016 ele estava de volta ao Santos. Mesmo não sendo relacionado mais como titular, ele continuava fazendo uma função a mais no time, que era orientar os garotos da base. Passou a desempenhar um papel mais tático, sendo mais um auxiliar técnico do que um jogador.
Isso trazia um pouco de medo, pois nos seus 35 anos, ele poderia anunciar a qualquer momento sua aposentadoria, e junto com ela, minhas esperanças. Encarei aquilo como se fosse a última tentativa.
Sábado, dia 18 de junho de 2016, dia de jogo entre Atlético-PR e Santos. Fui buscar minha madrinha santista, Vilminha no seu hotel e fomos direto ao hotel onde o Santos estava hospedado. Depois de algum tempo fomos encaminhados junto com alguns outros torcedores a aguardar em frente ao restaurante em que os jogadores almoçariam, para então tirar fotos e ganhar os autógrafos dos jogadores. Da porta de vidro consegui avistar o Elano. Isso já foi o suficiente para dar aquela grande ansiedade e nervosismo.
De um em um, jogadores saíam do restaurante rumo ao elevador, porém antes tinham que driblar os mais de 15 torcedores que os aguardavam. E cada vez mais o restaurante ficava vazio e ele continuava lá sentado, tranquilo, conversando e mexendo no celular.
Foi faltando apenas dois jogadores, ele e o Paulinho, que Elano apareceu para tirar fotos com o pessoal. Devo ter sido o terceiro ou quarto da fila. Mal conseguia transmitir toda a mensagem que tinha ensaiado por anos, enquanto desdobrava as camisas para que ele autografasse.
Levei duas camisas do Manchester City que levavam seu nome, ele ficou surpreso e inclusive fez uma dedicatória, substituindo os tradicionais autógrafos apenas com seu nome. Falei pouco para dar oportunidade para outras pessoas tirarem suas fotos e fiquei próximo do elevador para que pudesse ter mais tempo para conversar mais tranquilo.
Mas diferente do rumo dos outros jogadores, assim que terminou de tirar as fotos, Elano voltou para o restaurante. Fiquei perplexo com que havia acontecido. O segurança do time avisou a todos que o Paulinho não sairia do restaurante e que já poderíamos ir embora. Questionei sobre a possibilidade do Elano sair novamente e ele falou que não teria como.
Algo não estava certo. Não esperei tanto tempo para apenas tirar uma foto e ter um autógrafo. Sentia que minha missão tinha falhado. Foi triste, decepcionante. Mas enquanto a Vilminha conversava com o segurança, eu fiquei olhando pela porta de vidro, e reparei que ele olhou em minha direção. Acabei acenando e ele correspondeu, foi então que eu, em forma de mímica, perguntei se ele poderia ir até onde eu estava pra conversar rapidinho.
Em segundos, que pareciam minutos, ele logo me atendeu. Se levantou novamente da cadeira e foi lá conversar comigo. Não acreditava. A maioria dos torcedores já haviam ido embora, e então eu tive a oportunidade única de conversar com ele. Não sei quantos minutos foram, mas sei que foi o suficiente para agradecer por tudo que ele fez ao clube, por minha admiração como ele trata sua vida e o futebol, seja como esporte, mas também como trabalho.
Por fim, perguntei se haveria alguma possibilidade de ter sua camisa, e em meio a pensamentos de sua programação, já que ele viajaria logo após a partida, ele me prometeu dar a camisa usada na partida do dia e deixaria nas mãos do segurança. Foi o que faltava para ter minha missão cumprida.
A partida não foi grande coisa, perdemos por 1 a 0, com gol aos 43 minutos do segundo tempo. Elano não jogou.
Logo depois fomos ao hotel como combinado. E em meio a dúvidas se ele lembraria do prometido, e até acharia normal se ele esquecesse, já que deve se passar diversas coisas na cabeça do jogador em dia de jogo, eu encontrei o segurança que me entregou a camisa que o Elano havia me prometido.
Ainda na hora de ir embora consegui encontrar com ele para o último autógrafo, antes dele sair correndo para ir rumo ao aeroporto.
Se a minha admiração por ele já era grande, meu respeito ficou maior ainda.
Ele não é perfeito, passou por diversos problemas, polêmicas, mas soube cuidar disso de uma forma responsável. Teve atitude de um homem com caráter.
Esse sonho não é de um simples sonhador. Não é temporal, não é por moda. É por admirar em uma figura pública, as qualidades dos seus valores morais e éticos. É entender que ela pode significar um exemplo para ti, em diversas áreas e ainda torcer para que seja bem sucedida.
Deixo meu agradecimento público a Vilminha, minha madrinha santista que além de me presentear com uma linda camisa do Santos, foi fundamental para realizar esse sonho.